estado de graça
Eu dou muita opinião sobre o que não sei
E como um teste de sapiência, eu apenas me ponho a falar
Sem medir o passo seguinte da dança dos fonemas que não planejei
Escaparam-me.
O único modo verdadeiro de testar a existência é acreditar
E acreditar é se entregar no mais verossímil das coisas.
Acreditar também é andar nu pela casa em pleno meio-dia, e a escorrer lágrimas sobre as maçãs do rosto molhado de emergência
Refrescando-lhe a cara e as três almas do corpo, enquanto um disco arranha e embala a manhã de verão fulminante.
Mas falta-me a resposta para o tudo,
Apesar da minha natureza me obrigar à escolha,
Não sou eu quem escolho —quiçá existo.
E é por isso, que estes versos que te entrego em mãos,
são inacabados e apenas esboços do que eu quisera ser e escrever.
Eu,
Que tantas vezes tenho me pondo à frente de Maria
E andando a passos ligeiros sobre a calmaria da areia no cair da tarde, a não observar o sol lentamente se deslocando para o outro hemisfério, o outro lado do mundo. e é novamente noite.
Eu, que por poucas coisas que ainda não vi, não fui poupado do trauma.
Mas estou em pleno estado de emergência pela falta de palavras para te descrever o absurdo.
O absurdo está nas letras e na matemática, os números são os ossos do mundo. E a fórmula que pratico para descrever-lhe minha falta é repleta de falhas. Minha palavra não é exatamente o que gostaria de dizer-te, mas sou limitado a estes.
E ao se deitar, eu sinto-me confortável em estar à par do mundo,
sou ultrapassado por ele. E antes que ele me vença, eu sento e escrevo.
E num momento de distração a pensar no substantivo ideal, eu sinto finalmente a brisa que me acaricia o rosto enquanto te defino o mais banal da palavra.
E ponho-me a dormir, porque a liberdade é nauseante e me coloca num lugar de escolha. E eu escolho o que me ultrapassa.
E durmo.