estado de graça

leandro antony
2 min readDec 20, 2023

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jeanne bresciani

Eu dou muita opinião sobre o que não sei
E como um teste de sapiência, eu apenas me ponho a falar
Sem medir o passo seguinte da dança dos fonemas que não planejei
Escaparam-me.

O único modo verdadeiro de testar a existência é acreditar
E acreditar é se entregar no mais verossímil das coisas.
Acreditar também é andar nu pela casa em pleno meio-dia, e a escorrer lágrimas sobre as maçãs do rosto molhado de emergência
Refrescando-lhe a cara e as três almas do corpo, enquanto um disco arranha e embala a manhã de verão fulminante.

Mas falta-me a resposta para o tudo,
Apesar da minha natureza me obrigar à escolha,
Não sou eu quem escolho —quiçá existo.

E é por isso, que estes versos que te entrego em mãos,
são inacabados e apenas esboços do que eu quisera ser e escrever.

Eu,
Que tantas vezes tenho me pondo à frente de Maria
E andando a passos ligeiros sobre a calmaria da areia no cair da tarde, a não observar o sol lentamente se deslocando para o outro hemisfério, o outro lado do mundo. e é novamente noite.

Eu, que por poucas coisas que ainda não vi, não fui poupado do trauma.
Mas estou em pleno estado de emergência pela falta de palavras para te descrever o absurdo.

O absurdo está nas letras e na matemática, os números são os ossos do mundo. E a fórmula que pratico para descrever-lhe minha falta é repleta de falhas. Minha palavra não é exatamente o que gostaria de dizer-te, mas sou limitado a estes.

E ao se deitar, eu sinto-me confortável em estar à par do mundo,
sou ultrapassado por ele. E antes que ele me vença, eu sento e escrevo.
E num momento de distração a pensar no substantivo ideal, eu sinto finalmente a brisa que me acaricia o rosto enquanto te defino o mais banal da palavra.

E ponho-me a dormir, porque a liberdade é nauseante e me coloca num lugar de escolha. E eu escolho o que me ultrapassa.

E durmo.

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leandro antony

leio e escrevo pra não deixar de aprender o faz-de-conta